Nunca fui do tipo de pessoa que espera ansiosamente pelo Carnaval; a famosa e típica festa Brasileira sempre foi sinônimo de férias para mim. Eu via as pessoas na tv, correndo a noite inteira atrás do trio elétrico, fantasiadas e pensava: "Acho que não é para mim", mas de alguma forma, o carnaval da Bahia me despertava certa curiosidade. Ele parecia diferente de todos os outros, uma festa à parte. Bom, vamos pensar: não sou do Carnaval, mas sou da praia. Está equilibrado, vamos lá!

Embarquei rumo à Bahia dias antes do Carnaval de 2014. Depois de uma longa viagem de Londrina até São Paulo e de São Paulo a Salvador, o piloto começou a preparar o avião para o pouso no meio da tarde de sábado. Tirava um breve cochilo e acordei subitamente, como se meu inconsciente já soubesse onde estávamos — e, ainda um pouco sonolenta, olhei pela janela e me deparei com uma paisagem digna de Monet. - Cheguei! — disse, mentalmente, e assim que as palavras se formularam em minha cabeça, logo em seguida os olhos se encheram de lágrimas. Desci o mais depressa que pude e fui correndo pegar minhas malas para encontrar a minha carona, trocar de roupa e aproveitar ao máximo aquela tarde de sol. Ir para casa? Nem pensar! Corri para o banheiro do aeroporto, coloquei o biquíni por baixo da roupa e segui direto para a praia.

A primeira parada foi Itapuã, logo em seguida fui me "batizar" e comer o verdadeiro acarajé, claro! Até então, eu só tinha provado os “genéricos”. De repente, olho para o lado, e vejo um gari dançando com uma alegria genuína, enquanto varre o chão ao som de um grupo de pagode, tocando no bar ao lado. A cena, tirou um sorriso de mim (também genuíno). Nos dias seguintes, fui passando por diversas outras praias: Barra do Jacuípe, Arembepe, Guarajuba, Praia do Forte. Cada uma com seu encanto particular e todas com um ponto em comum: uma beleza sem igual, mas confesso que Barra do Jacuípe mexeu comigo de um jeito diferente. Ao passar por cada uma, a sensação era de estar dentro de um quadro, verdadeira obra de arte, além de transmitirem uma sensação de paz que não se explica.


Do rock ao axé: viagens e sua incrível capacidade de quebrar preconceitos

(Fevereiro - 2014)

A Praia do Forte ganhou o direito a duas visitas, pois me disseram que eu deveria conhecê-la em dois momentos diferentes: durante o dia e à noite. E não é que estavam certos? São duas praias diferentes, no mesmo lugar. Durante o dia, uma praia limpa, deliciosa e a possibilidade de visitar o Projeto TAMAR.

Que incrível! Conheci as mais diversas espécies de tartarugas e todo o trabalho realizado pelo projeto, e bem no momento de minha visita, um horário para o Yellow Submarine estava prestes a começar (que sorte!). O Yellow Submarine é uma exposição com animais marinhos de grandes profundidades, alguns totalmente desconhecidos, — oportunidade de conhecer, de pertinho, espécies que seria impossível conhecer sem o auxílio de um submarino. Foi surreal!

Já à noite, Praia do Forte parece um pequeno vilarejo, com restaurantes, bares, tom aconchegante e acolhedor. Nunca me senti tão leve. Parecia que estava em outra dimensão, universo paralelo, quase em Nárnia. – “É isso! Entrei em um guarda-roupas e saí aqui, só pode ser!" — repetia a mim mesma.

E quando eu pensei que voltaria para casa levitando, passei meus últimos dias NO CARNAVAL! Isso mesmo meus amigos, eu fui pular Carnaval. E, naquele momento, a cidade já parecia outra. Gente para todos os lados, música, risadas — cara, que doidera! Quase saí do corpo.

A empolgação tomou conta de mim de tal forma que já estava me sentindo uma legítima baiana. Foi então que começaram a chegar os trios elétricos, um atrás do outro: - “Olha ali na esquina, está chegando mais um!” - E, de repente, lá estava eu, uma roqueira de carteirinha, correndo e cantando atrás dos trios (como se fizesse isso há anos), mas a energia era tão contagiante, tão intensa, que era como se eu não tivesse vontade própria.

Simplesmente me deixei levar e foi sensacional! Um momento muito marcante para mim, foi enquanto caminhava pelo Pelourinho a noite, e ouvi um som bem distante – Perguntei-me "O que é isso?" e comecei a seguir o som: conforme caminhava, ele ficava mais intenso, mais pulsante, e mais vontade de me aproximar eu tinha.

Foi quando, ao virar uma esquina, deparo com uma escola de música inteira, ensaiando em um corredor íngreme, na rua mesmo! Me arrepiei instantaneamente e meus olhos se encheram de lágrimas. Aquela batida forte (digna do Olodum), entrava em mim e escorria pelos olhos. Não conseguia parar de olhar.

Ainda no Pelourinho, toda Terça-feira, o cantor Gerônimo faz shows gratuitos em frente á sua casa. Claro que não poderia perder. Um show animado, empolgante, pura Bahia!

Na hora de ir embora, a cena não poderia ser outra: encostei a cabeça na janela do avião e duas lágrimas meio tímidas rolaram. Era um misto de sentimentos, meu coração estava apertado por deixar aquele lugar e ao mesmo tempo feliz e transbordando toda aquela energia surreal. Foi intenso demais.

Eu? Eu continuo apaixonada pelo bom e velho Rock n’ Roll, mas a Bahia me conquistou de tal forma que hoje é impossível ouvir a música “Raiz de Todo bem”, cantada pelo cantor Saulo (música que, na época, estava tocando em todos os lugares por onde eu passava) e não estampar um enorme sorriso no rosto. Porque afinal, viajar é isso: é se envolver com uma cultura totalmente diferente da sua, vivenciar, aprender, e se desprender de qualquer preconceito simplesmente para se entregar a novas experiências.

De repente: Machu Picchu
Uma jornada sozinha até o Peru

Rio de Janeiro

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