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- Vamos lá Kauana, apenas um clique! - Então, ouviu-se um leve estalo (CLICK)

- Caramba! Comprei...eu vou mesmo! Pronto, foi dada a largada e foi assim, dentro de um pequeno quarto em frente ao computador, que se iniciava minha primeira grande jornada sozinha até o Peru. Frio na barriga? Sim, sem dúvidas, mas convenhamos que faz parecer mais emocionante.

Dei início aos preparativos: conversei com muitos viajantes, (principalmente mulheres que viajam sozinhas), comprei livros, estudei sobre o país, a cultura, Machu Picchu e tudo o mais. Além de minha família, ninguém mais sabia para onde eu estava indo (na verdade, nem sabiam que eu estava indo a algum lugar), somente peguei minha mochila e fui!

Enfim, o grande dia. Cheguei em Cusco por volta das 05h00, peguei um táxi e fui direto para o Hostel em que havia feito a reserva. Chamava-se Pariwana. Encantei-me pelo lugar, do começo ao fim. Como o check-in seria somente às 13h00, o staff me levou até o quarto de descanso - este, com uma luz baixa, tv ligada quase sem som, almofadas no chão e muito silêncio. Foi por ali mesmo que fiquei até as 07h00, quando o café-da-manhã seria servido.

Queria descansar antes de explorar a cidade para não sofrer com o mal de altitude. Ao acordar, logo de cara conheci a Mary, uma Irlandesa que viajava sozinha havia um mês. Tomamos café juntas (e que café! Mais um ponto para o Pariwana) e conversamos muito! Após o café, fui-me sentar no pátio do hostel e conheci o Liam, um Australiano muito simpático e que também viajava sozinho, com espírito de Brasileiro. Combinamos que conheceríamos juntos a Plaza de Armas assim que eu realizasse meu check in.

Parte burocrática feita, muita conversa e chá de Coca depois, agora sim: pode vir, Cusco!

Passamos o dia caminhando pela Plaza de armas (o dia estava absurdamente lindo e quente). À noite, todos os hóspedes se reúnem no bar do hostel que também é um refeitório. Conheci Argentinos, Americanos, Italianos e um casal de Brasileiros. A intenção era sair pela cidade, mas o clima estava tão bom que fiquei por ali mesmo. Para quem não quer se aventurar à noite, o Pariwana já é uma atração à parte.


De repente: Machu Picchu

Uma jornada sozinha até o Peru

(Março – 2016)

No dia seguinte, fiz o passeio até o vale sagrado (e descobri que Liam também iria). Foi bem cansativo, mas muito lindo, passando por Pisac, Ollantaytambo, Chinchero e Moray. Foi um dia inteiro de passeios (mais precisamente das 08h00 até umas 20h00). Em cada lugar, uma experiência única.

No terceiro dia, o ápice da viagem, meu maior motivo por estar lá: A TRILHA ATÉ MACHU PICCHU!

Optei pela trilha Salkantay, de cinco dias. Saímos do hostel com o guia por volta das 05h30 e pegamos o ônibus rumo ao início da trilha. Meu grupo era bem diversificado: 4 amigos Alemães que viajavam juntos, um casal de amigos também da Alemanha, um casal Neozelandês e uma Brasileira de Porto Alegre, que acabou virando minha parceira de barraca.

Caminhamos por três horas até pararmos para comer; depois, mais três horas até a próxima parada. No fim do dia, chegamos ao primeiro acampamento, onde fomos recebidos com muita comida boa.

O cansaço era grande, mas a vontade de explorar cada pedacinho do Peru era maior ainda. Então, ao chegar no primeiro acampamento, ainda enfrentamos mais alguns quilômetros e subidas até Humantay Lake - um lago que parece que foi pintado à mão (pensando bem, acho que foi mesmo: pelas mãos de Deus!).

Para coroar o fim do primeiro dia, fomos presenteados com um céu estonteante e totalmente estrelado. Lindo, de uma forma que jamais poderia ser visto do Paraná (onde eu morava, até então).

No segundo dia, Javier - nosso guia - passa chamando pelas barracas às 05h30 e nos acorda, trazendo consigo chá de coca (muito mimo). Tomamos um café-da-manhã maravilhoso e já reiniciamos a caminhada. Este dia se mostra ser o mais difícil: muita subida, muito frio, muito pesado, muito tudo. Fiz uma preparação física específica para essa trilha uns dois meses antes e, mesmo assim, foi difícil.

Mas, ao chegar ao topo da montanha Salkantay, tudo passou: a vista é incrível e o pessoal, mais ainda! Cada um que chegava era recebido com abraços e muitos “parabéns”. Ali, pôde-se ver várias pedrinhas amontoadas, uma em cima da outra: você deve empilhar suas pedras e fazer um pedido para Pachamama (mãe natureza). Já falando da descida, é muito íngreme e não tem onde se apoiar. Foi aí que entrei em um dilema: se descer de frente vai forçar meus joelhos, se descer de lado pode torcer meu tornozelo. E agora? Seja o que Deus quiser! Desci de frente e não deu outra: ao final da descida estava sentindo meus joelhos.

No segundo acampamento, foi dia de provar Cusqueña (típica cerveja Peruana), observando as montanhas e, finalmente, tomar banho (algo que, até o momento, estava fazendo com lenço umedecido). No terceiro dia, antes de continuar a caminhada, tivemos uma parada para um banho de águas termais (os músculos agradecem), óbvio que ocorreu um “porém”: quando estávamos chegando no local, lembrei que não estava com meu biquíni na mochila (que tapada!). Não dava para perder o banho de águas termais, e agora? Entrei no vestiário, com minha colega brasileira, abaixei minha calça, e perguntei a ela:

- Hei, parece que é calcinha? – disse com o olhar ansioso

- Um pouco! – respondeu ela, rindo.

Óbvio que parecia, eu estava de calcinha mesmo.

- Ah, dane-se! Ninguém me conhece aqui – respondi já terminando de retirar minha calça enquanto minha parceira chorava de tanto rir.

E foi assim que aproveitei meu passeio com banho de águas termais: de top e calcinha, totalmente á vontade (não me olhe assim, não dava para perder).

À noite, rolou uma festa no acampamento, com direito a fogueira, música, Pisco (bebida típica) e muito gringo louco dançando macarena.

Quarto dia: acordar cedo e tirolesa! Mais de 5km de adrenalina e uma vista incrível. Adrenalina em alta? Aproveita e já pega a estrada de novo. No meio do caminho, um susto: um pequeno desmoronamento de pedras quase nos acerta, mas nosso guia - muito atento - nos tirou dali a tempo… Ufa! Passado o susto, voltamos para a programação normal.

Nesta última noite, dormimos em um hotel já em Machu Pichu Pueblo, pequena cidade que fica aos pés da montanha. A esta altura do campeonato, eu já estava andando em uma perna só (meu joelho só piorou).

Quinto dia: 04h00 todos em pé, alimentados e com lanterna na mão, seguimos para nosso grande destino, mas claro, antes de ver o arco íris, é preciso passar pela tempestade: tivemos uma hora e meia de subida em uma escada íngreme antes de chegar. Meu joelho latejava como se tivesse uma escola de samba inteira ensaiando dentro dele.

Já não conseguia mais apoiar o peso do corpo e a outra perna começava a cansar (essa parte não foi nada legal). Em alguns momentos Patrick (um dos garotos da Alemanha) foi muito solidário, diminuiu os passos para me acompanhar e ainda me ajudou em uma parte da subida. Essa é uma das coisas incríveis das viagens: mochileiros são muito prestativos! Patrick foi realmente muito gentil.

Alguns degraus e “mancadas” depois, finalmente Machu Picchu. Cheguei! Em uma perna só, é verdade, mas cheguei. Ainda estava muito nublado e confesso que o coração ficou ligeiramente aflito, mas Pachamama nunca decepciona e, às 10h00, Machu Picchu apareceu indescritivelmente lindo e majestoso (até esqueci do joelho). Seria uma falta de respeito de minha parte tentar descrever, é preciso ver de perto para sentir na pele tudo o que aquele lugar transmite.

Machu Picchu é surreal, mas tenho que dizer que chegar até lá pela trilha teve um sabor totalmente diferente, não seria a mesma coisa de trem ou ônibus, a jornada toda tem seus encantos particulares e nos prepara para o grand finale.

É o pacote completo. Por vezes, na vida, focamos tanto em nosso objetivo final que nos esquecemos do quanto a jornada nos faz crescer, tão importante quanto a chegada. Durante a trilha, conheci pessoas novas, conheci histórias, culturas, montei barracas, comi abacate no meio da comida, sentei na grama para observar as estrelas, tomei banho com lencinho umedecido, levei cantada de Peruano, machuquei o joelho, ajudei e recebi ajuda, aprendi umas duas ou três palavras em alemão, descobri que Kauana é uma palavra em Quéchua e que significa “olhar”, entre várias outras coisas.

Vivenciar tudo isso e ter uma vista deslumbrante ao final é uma sensação inenarrável. O que posso dizer é: Foi intenso e valeu a pena cada segundo, cada experiência e posso dizer que toda essa bagagem (não material) que trouxe comigo me transformou de forma única e permanente, tornando-se um grande tesouro! Peru, você tem um lugar todo especial em meu coração.

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