No segundo dia, Javier - nosso guia - passa chamando pelas barracas às 05h30 e nos acorda, trazendo consigo chá de coca (muito mimo). Tomamos um café-da-manhã maravilhoso e já reiniciamos a caminhada. Este dia se mostra ser o mais difícil: muita subida, muito frio, muito pesado, muito tudo. Fiz uma preparação física específica para essa trilha uns dois meses antes e, mesmo assim, foi difícil.
Mas, ao chegar ao topo da montanha Salkantay, tudo passou: a vista é incrível e o pessoal, mais ainda! Cada um que chegava era recebido com abraços e muitos “parabéns”. Ali, pôde-se ver várias pedrinhas amontoadas, uma em cima da outra: você deve empilhar suas pedras e fazer um pedido para Pachamama (mãe natureza). Já falando da descida, é muito íngreme e não tem onde se apoiar. Foi aí que entrei em um dilema: se descer de frente vai forçar meus joelhos, se descer de lado pode torcer meu tornozelo. E agora? Seja o que Deus quiser! Desci de frente e não deu outra: ao final da descida estava sentindo meus joelhos.
No segundo acampamento, foi dia de provar Cusqueña (típica cerveja Peruana), observando as montanhas e, finalmente, tomar banho (algo que, até o momento, estava fazendo com lenço umedecido). No terceiro dia, antes de continuar a caminhada, tivemos uma parada para um banho de águas termais (os músculos agradecem), óbvio que ocorreu um “porém”: quando estávamos chegando no local, lembrei que não estava com meu biquíni na mochila (que tapada!). Não dava para perder o banho de águas termais, e agora? Entrei no vestiário, com minha colega brasileira, abaixei minha calça, e perguntei a ela:
- Hei, parece que é calcinha? – disse com o olhar ansioso
- Um pouco! – respondeu ela, rindo.
Óbvio que parecia, eu estava de calcinha mesmo.
- Ah, dane-se! Ninguém me conhece aqui – respondi já terminando de retirar minha calça enquanto minha parceira chorava de tanto rir.
E foi assim que aproveitei meu passeio com banho de águas termais: de top e calcinha, totalmente á vontade (não me olhe assim, não dava para perder).
À noite, rolou uma festa no acampamento, com direito a fogueira, música, Pisco (bebida típica) e muito gringo louco dançando macarena.
Quarto dia: acordar cedo e tirolesa! Mais de 5km de adrenalina e uma vista incrível. Adrenalina em alta? Aproveita e já pega a estrada de novo. No meio do caminho, um susto: um pequeno desmoronamento de pedras quase nos acerta, mas nosso guia - muito atento - nos tirou dali a tempo… Ufa! Passado o susto, voltamos para a programação normal.
Nesta última noite, dormimos em um hotel já em Machu Pichu Pueblo, pequena cidade que fica aos pés da montanha. A esta altura do campeonato, eu já estava andando em uma perna só (meu joelho só piorou).
Quinto dia: 04h00 todos em pé, alimentados e com lanterna na mão, seguimos para nosso grande destino, mas claro, antes de ver o arco íris, é preciso passar pela tempestade: tivemos uma hora e meia de subida em uma escada íngreme antes de chegar. Meu joelho latejava como se tivesse uma escola de samba inteira ensaiando dentro dele.
Já não conseguia mais apoiar o peso do corpo e a outra perna começava a cansar (essa parte não foi nada legal). Em alguns momentos Patrick (um dos garotos da Alemanha) foi muito solidário, diminuiu os passos para me acompanhar e ainda me ajudou em uma parte da subida. Essa é uma das coisas incríveis das viagens: mochileiros são muito prestativos! Patrick foi realmente muito gentil.
Alguns degraus e “mancadas” depois, finalmente Machu Picchu. Cheguei! Em uma perna só, é verdade, mas cheguei. Ainda estava muito nublado e confesso que o coração ficou ligeiramente aflito, mas Pachamama nunca decepciona e, às 10h00, Machu Picchu apareceu indescritivelmente lindo e majestoso (até esqueci do joelho). Seria uma falta de respeito de minha parte tentar descrever, é preciso ver de perto para sentir na pele tudo o que aquele lugar transmite.