Para compensar, à noite o mar estava absurdamente tranquilo, a água quente e a paisagem esplêndida. Depois da tempestade, a calmaria, agradeço. Conhecemos também a mureta da Urca, que é literalmente um pequeno muro que serve como ponto de encontro para o pessoal se reunir, tomar uma cerveja e ver o pôr do sol (gosto pouco disso, hein), ali também é possível ter uma vista panorâmica do Rio onde pode-se ver o Pão de Açúcar, o Cristo... Uma imagem realmente linda para finalizar aquele dia.
Um novo dia, novos lugares. Pegamos um táxi até Copacabana novamente (sem emoções desta vez) e iniciamos nossa caminhada turística, passando por Ipanema com um pulo na praia do Arpoador que, confesso, foi uma das preferidas e pelo Leblon (com direito à clássica foto ao lado da Estátua de Carlos Drummond de Andrade). A noite foi das meninas, já que Tayler não aguentou a maratona brasileira e resolveu ficar em casa descansando. Nesse caso, eu e a Georgia não perdemos tempo e mais uma vez fomos até a Lapa.
Assim que pulamos do táxi, dois argentinos vieram nos abordar com um papinho muito furado:
— Somos os primeiros caras que conversam com vocês, e seremos os últimos – disseram.
Nossa reação foi uma conversa interna, somente com o olhar, daquelas que só se tem com uma amiga muito próxima, e sem manifestar uma palavra, dissemos uma para a outra
“Vai nessa, campeão”.
Caminhamos muito pelo lugar antes de resolver onde iríamos parar. Algumas voltas depois, decidimos ficar no Antônio’s bar, onde começamos a buscar por uma mesa, quando, de repente... tchanââân.
Lá estão os argentinos, de novo. No final das contas, eles se mostraram muito simpáticos e mantiveram o respeito, sem gracinhas e sem ultrapassar limites (gosto assim). Depois do bar, seguimos para um local onde tocava black music e nos divertimos muito. Los hermanos ficaram até o final conosco (e não é que estavam certos?).
Na hora de ir embora, uma chuva torrencial tomou conta de tudo e o bairro ficou todo alagado. Por conta do difícil acesso, nenhum taxista queria ir até lá. Ficamos ilhados! Um dos argentinos ficou com tanta raiva que, em uma das últimas tentativas de chamar um táxi, ao perceber que este estava indo embora mais uma vez, ele saiu correndo igual a um louco atrás do carro, de calça branca, no meio da chuva. Fico me perguntando se ele pensou que poderia agarrar o para-choque do carro e fazê-lo parar. Não sei o que pensou, só sei que a risada foi garantida.
Acabou que pegamos um ônibus mesmo até o Flamengo (não teve jeito, saímos no meio da chuva até o ponto), e depois um táxi, para nos deixar em nossa rua, e os argentinos seguiram seu caminho, de ônibus.
A pedida do dia seguinte foi acompanhar os blocos do pré-carnaval, e à noite a despedida foi em um barzinho próximo, onde pedimos uma caipirinha e o garçom nos serviu uma bebida radioativa, só pode. O negócio era tudo, menos uma caipirinha. Feito com cachaça, servido no copo de tequila e com uma cor rosa chiclete, muito parecido com um remédio que eu tomava quando criança (inclusive o gosto). Apesar da frustração com a bebida, o lugar era muito bacana e ficava a apenas três minutos da casa da Paty, economizamos no táxi. Ponto!
São tantas lembranças, recheadas de boas memórias, que jamais caberiam aqui, mas alguns fragmentos que ficaram já são o suficiente para lembrar o quanto sair e se permitir é transformador. Aqui não há nenhum relato necessariamente grandioso – todas as vivências são simples e comuns, mas ainda assim, não deixam de ser belas e importantes.
O Rio de Janeiro consolidou uma amizade que já era firme, encheu minha bagagem com risadas, momentos de tensão os quais consegui contornar e contribuiu com a lista infinita que me faz querer viajar cada vez mais.
** nomes fictícios foram usados no texto